15 de fev. de 2007

Maioridade penal e hipocrisia

Hoje li um comentário na Folha de São Paulo muito interessante homônimo ao título, escrito por Contardo Calligaris. Não concordo com tudo que ele diz, mas um parte me chamou a atenção: como podemos enxergar as coisas só na hora que algo ruim acontece?
E acrescento: Como podemos enxergar isso somente na hora que a violência atinge outras classes sociais fora dos bolsões de pobreza?

Acompanho sempre o site do desenhista André Dahmer (criador da famosa, pelo menos pra mim, tirinha eletrônica dos "Malvados) chamado Rio Body Count (http://www.riobodycount.com.br/) que é um projeto que conta o número de mortos e feridos vítimas da violência na cidade maravilhosa. Me assusta chegar ao dia 15/02 com quase 150 mortos.

Mas na verdade, após tanta enrolação, o que quero dizer é que parece que as outras vítimas não tem importância. São mortes tão cruéis quanto a do garoto João Hélio.

Será que a maioridade penal é a solução? Acredito que a casos e casos, que poderiam haver penalidades maiores para crimes hediondos. Temos que pensar também na estrutura da prisão. Um jovem preso, seja quantos anos for, ele é reeducado? Ele passa por processos que mostrem que o que ele fez não é moralmente aceito e ele vai ser excluído quando voltar a acontecer? Então do que adianta ele ficar 3 ou 1000 anos preso se não vai haver mudança no excluído? Será que o fato de diminuir a maioridade penal vai coibir a ação de outros menores?

O discurso da maioridade penal é o mais fácil a ser feito. Porque não podemos discutir o processos de inclusão social e políticas públicas?

Legislar apenas em momentos de emoção extrema é um erro fatal. Temos que nos apoiar na razão e não cobrar uma solução em forma de vingança. Claro que temos presa e que a justiça no Brasil precisa ser mudada, mas não temos que cobrar só a maioridade penal, mas também todo um conjunto de leis que ao invés de transformar a cadeia em uma Universidade do Crime em um lugar onde os presos possam enxergam o que fizeram e tentar realmente modificar seu modo de vida. E também leis relativas a processos penais, entre outras.

Já deixo claro que sinto pela família do garoto, mas também sinto pelas famílias assassinos, sinto pelos outros 144 mortos no Rio até o momento vítimas da violência, sinto por todos outros que pereceram nessa nossa guerra particular (seja pobre, rico; ladrão ou trabalhador), sinto por nós que enfrentamos isso e sinto pela mídia que explora de forma desleal esse assunto tão chocante (principalmente a Revista Veja).

Na maioria das vezes fujo do pensamento comum, acho que deve ser algum problema genético........

Já sabem o que fazer: Desçam a vara (no bom sentido, claro) e também corrijam meus erros de português. O fato de onde trabalho mandar fazer revisão dos textos me deixou desleijado.

Um comentário:

Anônimo disse...

O Brasil me surpreende cada vez mais... Quando vc acha que ele se superou na falta de ética, ele se mostra ainda mais ante- ético.
Mais uma demonstração do poder do dinheiro, não só sobre os setores públicos e instancias governamentais. Mas a mídia! A mídia vem se tornando um refúgio dos ricos. Aqueles que podem pagar têm acesso a mídia de tal forma que ela passa de informante para esputacularizada!
Centenas de pessoas morrem de formas bárbaras nas periferias do país e nem por isso ninguém me pedi para colocar um florzinha no nick do msn em forma de protesto! Não quero defender os bandidos, mto menos diminuir a dor da família que perdeu o garoto de forma trágica. Por outro lado, faço um questionamento a sociedade brasileira, acostumada a se indignar apenas com o suporte da mídia nacional. O brasileiro tem que criar o hábito de se indignar pelas barbáries que acontecem todos os dias nas comunidades carentes, onde a violência é a palavra de ordem, onde jovens perdem seu futuro e suas vidas nas drogas. Isso sim tem que se tornar massante na mídia, todos os dias...

Eu me indigno, mas sou pobre. Há quem diga que é essa a origem do meu questionamento... na cabeça dessas pessoas sempre está presente aquela máxima: "pagando bem, que mal tem..."!