19 de fev. de 2010

Carnavália

Melhor carnaval da minha vida. Obrigado Camilinha, Alê, Claúdio, Uyara e todos os integrantes da Oficina Lúdica de Ritmos e a Lúdica Música (Isabella, Rosana e Gutti), que ministraram a Oficina.

Nada mais a declarar!


Depois vídeos...

11 de fev. de 2010

Carnaval espiritual
Artigo de Frei Beto (Estado de Minas - 11/02/2010)

Meu enredo terá a simplicidade de um haicai, a imponência de um poema épico, a beleza das histórias recontadas às crianças

Neste carnaval anseio por folias interiores, de maravilhas indescritíveis, de sinuosos alaridos, de magnificências a dispensar ruídos e palavras. Quero toda a avenida regida por inequívoco silêncio, o baile imponderável em gestos rituais, a euforia estampada em cada sorriso.

Rasgarei a fantasia de minhas pretensões e, despido de hipocrisias, deixarei meu eu mais solidário desfilar alegre pelas recônditas passarelas de minha alma.

Fecharei os ouvidos à estridência dos apitos e, mente alerta, escutarei o ressoar melódico do mais íntimo de mim mesmo. Deixarei cair as máscaras do ego e, nas alamedas da transparência, farei desfilar, soberba, a penúria de minha condição humana.

Aplaudirei os sambistas com fogo nos pés e as mulatas eletrizadas pelo ritmo da batucada. Mas não me deixarei arrastar pelo bloco da concupiscência. Inebriado pelo ritmo agônico da cuíca, serei o mais iconoclasta dos discípulos de Momo, recolhido ao vazio de minha própria imaginação.

Neste carnaval serei figurante na escola da irreverência e desfilarei pelas ruas meu incontido solipsismo, até cessar a bateria que faz dançar os fantasmas que me povoam. Envolto na desfantasia do real, atirarei confetes aos foliões e perseguirei os voos das serpentinas para que impregnem de colorido as diatribes de meu ceticismo.

No estertor da madrugada, farei ébrias confidências à Colombina e, Arlequim apaixonado, ofertarei as pétalas que me recobrem o coração. Não porei olhos no desfile da insensatez, nem abrirei alas à luxúria do moralismo. Quando a porta-bandeira desfraldar encantos, ficarei ajoelhado na ala das baianas para reverenciar o Almirante Negro.

Ao eco dos tamborins, esperarei baixar a sofreguidão que me assalta, buscarei a euforia do espírito no avesso de todas as minhas crenças, exibirei em carros alegóricos as íngremes ladeiras da montanha dos sete patamares.

Darei vivas à vida severina, riscarei Pasárgada de meu mapa e, ainda que não me chame Raimundo, farei da rima solução de tantos impasses neste devasso mundo. Expulsarei de meu camarote todos os incrédulos do Pai Nosso cegos aos direitos do pão deles.

Revestido de inconclusas alegorias, sairei no cordão das premonições equivocadas e, vestido de Pierrô, aguardarei sentado na esquina que a noite se dissolva em epifânica aurora.

Ao passar o corso da incompletude, abrirei as gaiolas da compaixão para ver o céu coberto pela revoada de anjos. Trocarei as marchinhas por aleluias e encharcarei de perfume os monges voláteis incrustados em minhas imprudências.

Olhos fixos no esplendor das batucadas siderais, contemplarei o desfile fulgurante dos astros na Via Láctea. Verei o sol, mestre-sala, inflamar-se rubro à dança elíptica da cabrocha Terra. Se Deus der as caras, festejarei a beatífica apoteose.

No cortejo dos Filhos de Gandhy, evocarei os orixás de todas as crenças para que a paz se irradie sobeja. Do alto do trio elétrico, puxarei o canto devocional de quem faz da vida a arte de semear estrelas.

Entoado o alusivo, darei o grito da paz, pronto a fazer da comissão de frente o prenúncio do inefável. No reverso do verso, cunharei promissoras notícias e, no quesito harmonia, farei a víbora e o cordeiro beberem da mesma fonte.

Meu enredo terá a simplicidade de um haicai, a imponência de um poema épico, a beleza das histórias recontadas às crianças. De adereços, o mínimo: a felicidade de quem pisa os astros distraído.

Farei da nudez a mais pura revelação de todas as virtudes; assim, ninguém terá vergonha de mostrar o que Deus não teve de criar, e a culpa será redimida pelo amor infindo. A rainha da bateria virá tão bela quanto uma vitória-régia pousada numa lagoa despudoramente límpida. Sua beleza interior suscitará assombro.

A evolução da escola culminará em revolução: a fantasia se fará realidade assim como o sertão há de vir amar e o mar de ser tão pellegrinamente pão do espírito.

Neste carnaval não haverei de me embriagar de etílicos prazeres nem me deixarei arrastar pelos clóvis a disseminar o medo entre alegrias. Irei aos bailes rituais e me submeterei às libações subjetivas, ofertarei ao Mistério cálices de clarividências e iluminuras gravadas em hóstias.

Enclausurado na comunhão trinitária, ingressarei na festa que se faz de fé e na qual toda esperança extravasa no amor que não conhece dor. Então a palavra se fará verbo, o verbo, carne, e a carne será transubstanciada em festival perene – carnaval.

10 de fev. de 2010

O mundo está ao contrário....

É. E ninguém me falou.

Tudo tão estranhos. Penso e quero parar de pensar. Penso e tenho a certeza que pensar impede as pessoas de viverem.

É muito sentimento. E tão intensos e tão confusos. Já não são os sentimentos de antes. Na verdade não sei quais são os sentimentos. Sei que são sentimentos, só isso!

Quero descansar. E acho que o carnaval vai ser providencial. Um boa cerveja, com boas pessoas no melhor lugar do Carnaval. Belo Horizonte. Lógico, melhor lugar pra quem odeia o carnaval.

Sei que minha cabeça não estará aqui. Na verdade vai estar aqui e a alguns quilômetros. Mas só dela estar um pouco aqui vai fazer algumas coisas se acalmarem.

A vida nos surpreende a cada minuto, mas desta vez quero surpreender minha vida. Dar um susto tão grande nela que algumas coisas vão mudar.

Realmente acho que tenho que deixar algumas coisas para trás. Algumas coisas boas. Algumas qualidades.

Depois disso vou me tornar mais vazio. Menos eu. Talvez seja isso que tenha que acontecer. Afinal, temos que nos adaptar aos novos tempos e ser menos nós mesmos. Para acabar sendo igual ao todo.

Então tá..... Vou ser igual ao todo.....

Escrevendo isso lembrei do Quintana e uma poesia que me descreve mais do que eu mesmo posso me descrever:

A Rua dos Cataventos
Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!


* Nem lembro da primeira vez que me assassinaram.......